quinta-feira, 23 de julho de 2015

Sessão poema¨#6 Chuva e Sol

Chuva e Sol

A chuva é reflexão, o sol, imediata ação.
A chuva é melancolia, o sol, folia.
A chuva é silêncio sem farra, o sol, algazarra.
A chuva é timidez, o sol, insensatez.
A chuva é ressentimento, o sol, divertimento.
A chuva é solidão, o sol, multidão.
A chuva é depressão, o sol, animação.
A chuva é fria e calada, o sol, luz e balada.
A chuva é sinceridade áspera, e o sol, falsidade austera.
A chuva é dormir, o sol, se divertir.
A chuva é chorar, o sol, sorrir.
A chuva é pensar, o sol, agir.
A chuva é sofrer, o sol, rir.
A chuva é esperar, o sol, festejar.
A chuva é lembrar, o sol, desapegar.
A chuva é descansar, o sol, dançar.

Sem chuva, há secas e a agricultura não prospera, lagos secam;
Com muita chuva, há enchentes e erosão;
Sem sol, turismo declina, e plantas nem germinam;
Com muito sol, há secas e desertificação;


Sem sol não vivemos, sem chuva, muito menos.

Por Mariana M, feito ás cinco horas da manhã, o espírito de poetisa sempre espreitando.

sábado, 18 de julho de 2015

Drama #1 milkshake de menta

Terça feira, cansaço emerge das profundezas somente ao ler este nome. Acordei em cima da hora, como na maioria das vezes, e corri para a escola sem ingerir um único alimento, apenas um copo corrido de água, normal. Havia esquecido meu dinheiro, logo, nenhuma refeição tampouco.
Meu estômago roncava e por volta das onze horas, já comecei a pensar no maravilhoso almoço que me aguardava em casa quando voltasse para a mesma; ok, maravilhoso é demais, uma refeição modesta, mas quem era sou eu para criticar? Imaginei, claro, o melhor da culinária goiana de minha avó: Aipim/mandioca com carne, arroz e feijão fresquinho, cozido no dia, ou talvez cenoura ralada temperada, almôndegas com purê de batata, e de sobremesa bolo de milho, ou de aipim, grande maravilha. ( certo, eu apenas a comeria se fosse de aipim. - Pausa para minha avó me enchendo o saco para NÃO DEIXAR A PASTA DE DENTE ABERTA  "tanta coisa terrível para me aborrecer nesta vida e você me dá um problema desse" diz ela segurando a pasta de dente aberta como uma mãe segurando o corpo ensanguentado do filho diante do assassino que o matou- enfim, voltando, apenas gostaria de comer, qualquer coisa, quando chegasse em minha agradável moradia. 
Mas na vida nada é perfeito, a última aula ao invés de durar apenas cinquenta minutos durou uma hora e vinte, e eu fui assaltada e precisava tirar uma cópia da apostila de meu amigo para poder estudar para as provas. logo fomos da escola direto á gráfica, tiramos a maldita cópia e fomos para onde? Educação física! Eu odeio esportes, nunca vou á aula, mas desta vez precisava ir pois seria importante, teria que formular a dança ( cof ponto cof extra cof ) e não gostaria de perder ( cof o ponto cof) a linda oportunidade de bailar a dança festiva de junho (em julho ) com meus colegas.
Chegando lá, os professores avisam que NÃO HÁ aula de educação física. Eu fico indignada - Pai abre a porta pedindo para eu abaixar a música, abaixei enquanto ele olhava e aumentei de novo quando fechou a porta- e meu amigo apenas consente e senta para... assistir a aula da outra turma? eu fico dez minutos tentando chegar a um consenso, dançar com outra turma, arrumar barraquinhas, lavar o chão, não importa! Só quero o ponto! Não consegui negociar, frustrada, faminta, pensando em maravilhosos pratos, uma lasanha gigante á bolonhesa, com queijo escorrendo pelos lados, aquelas que você está satisfeito mas continua comendo somente por ser boa e sabe-se lá a próxima vez que comerá uma delícia dessas, e de sobremesa, um petit gateau de chocolate quentinho com porções enormes de sorvete dos lados, e ainda com calda, castanhas, M&Ms e uma cereja no topo! Tudo isso na minha incrível mente faminta. E meu estômago roncando. Fomos embora, eu e meu amigo, frustrados, e foi ele embora, e dirigi-me ao lar. Tão formal essa garota. Um notebook pesado, uns três livros, pesando terrivelmente, mas mesmo assim, continuei, firme e avante. Chegando em casa, depois de muito suar ( delícia) vou almoçar. Feijão descongelado, arroz de uns dois dias atrás, berinjela com queijo em cima e farofa. Tudo bem, há pessoas que estão passando fome  na África e não tem o que comer, e eu sei apenas cozinhar Macarrão Instantâneo, pipoca de microondas e brigadeiro, então não posso criticar; comi tudo como se fosse aquelas papas de prisão, que você come somente para permanecer vivo; infelizmente neste dia como não havia comido quase nada, minha fome estava muito grande, e comer um prato literalmente de pedreiro ( meu avô era) não me encheu. (minha avó tem a seguinte concepção : se ela te encher de comida, você vai gostar dela e não vai comer mais até sete horas se passarem/ vai ficar saudável para sempre; ( Detalhe : de vez em quando, se pego uma barra de chocolate para comer ela já se exalta e diz: CUIDADO, VOCÊ PODE FICAR GORDA HEIN) voltando... E eu precisava comer alguma coisa para tirar o gosto daquela comida da boca. Fui escovar os dentes primeiro, do contrário não aguentaria muito não. 
E, como uma grávida de primeira viagem, tive o desejo de consumir um milkshake de menta. Se não, eu ficaria pensando no milkshake de menta o dia inteiro. Minhas respostas nas provas seriam "milkshake de menta", eu teria alucinações até que não consumisse o maldito produto lácteo aromatizado artificialmente. E minha mente vagava, flutuava só de pensar na sensação de comer aquela mistura de frescor e doçura, e em como minha fome acabaria de vez, e eu terminaria de toma-lo e continuaria pensando nele, e ponderando quando seria a próxima vez que o tomaria.
Fui ao curso de idioma, e a produtividade do período foi praticamente nula. Milkshakes dançavam sobre as palavras no livro; até que saí da aula, e procurei moedas para pagar meu alimento sagrado tão esperado: Não tinha a quantia necessária; não importa, peguei emprestado com todos meus parentes alcançáveis, dois reais de um, três de outro, e mais três apenas em moedas de vinte e cinco centavos. Nada mais importava, eu poderia pagar com barras de ouro, gemas preciosas, ou petróleo.
E lá fui eu, comprar o produto mais esperado do dia.
Paguei a quantia exorbitante, e apenas observava a mulher encher o copo com aquela mistura verde brilhante, um verde artificial cor de esperança, vigorosa.
Peguei o copo, olhei para o conteúdo, entrecortado por calda de chocolate e flocos da mesma substância, e quase comecei a chorar, tamanha a felicidade.
Fui até a praia, caminhei até a beira do mar, sentei na areia, observando o pôr do sol, o céu rosa e laranja emoldurando a linda paisagem, e tomei meu milkshake, mais feliz impossível. A vida é bela.

Desabafo da semana #3

Conforme eu cresço, mais tenho repúdio ás formas que circulam a minha volta; lembro-me de ter dez anos e aparecer na cozinha com um sorriso de orelha a orelha, abrir a porta da geladeira e pegar o pote de sorvete inteiro para devorar em uma só tarde; mesmo ele estando na metade, ainda era bastante quantidade. E lá vinha minha avó, com a preocupação estampada na face, já exclamando:
-Não deem isso para essa criança, ela pode engordar e ficar igual a Fulana.
E eu, triste, respondia:
- Eu nunca serei igual a Fulana, meu nome é Mariana.
Mas ela não entendia, nunca irá entender.
Qual é o problema de ter uns quilos a mais?
Não que eu tenha, mas e se tivesse?
Me repudiaram na rua? Apontariam para mim e, como nos filmes, exclamariam: “Aberração! ”
Meu caráter seria o mesmo. Minhas escolhas seriam as mesmas.
Sou magra, mas sou (estou) sedentária, tenho amigos que são mais pesados e muito mais ativos que eu.
Isso porque sou alta, se fosse baixinha com certeza teria uns quilos sobressalentes.
A questão não é essa, e se eu fosse gordinha?
Agora estou alguns dias na cama, impotente, somente comendo vendo séries desenhando e mexendo no computador, maravilha de vida; já ouvi umas cinco pessoas dizendo: “-Cuidado para não engordar” “-Só faltava você engordar” “-Só não vai engordar”.
A situação ficou tão crítica que chega a ponto de eu chegar na cozinha com uma barra de chocolate e já me tacarem pedras.
Entrei em uma academia, mas estudando de sete da manhã até sete da noite (com dois ou três intervalos) estudando, é totalmente inviável ir malhar depois de tudo isso, e ainda fazer os deveres de casa; escolhi, dentre ter um corpo perfeito e ter uma mente afiada, a segunda opção. Será que devo me arrepender de tal escolha?
Se estão tão preocupados com meu peso, devem estar preocupados com o resto também né? Saibam que estou com um tornozelo torcido, uma unha da mão ameaçando quebrar-se de baixo para a cima, e assim vai. Não querem saber, então respeitem o próximo, não vejam forma, vejam caráter.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Canja pra que te quero

Josefina acabara de voltar do curso e seu estomago roncava. Estava economizando seu dinheiro para poder viajar e conhecer o mundo, e por isso não se prestou a comprar algo na rua." Por que fazer isso? " se perguntava, se havia comida em casa e lá poderia restabelecer as energias? Tudo bem que as suas experiências com "depender do que temos em casa" não foram muito boas... ( um dia, carente de comer doces, abrira a geladeira, armários, fogão , estantes, olhara debaixo das camas, sofás, e nenhuma guloseima encontrou; pegou o frasco de mel, derramou tudo em um copo, e foi comendo de colher, feliz da vida; estes eram os doces mais gordurosos na casa de Josefina) Mas neste dia seria diferente! Ela se alimentaria de maneira saudável, sem muito sódio, e se poria a estudar de imediato!
Chegando em casa, tomou banho, trocou de roupa, seu estômago roncando em expectativa. Sua mãe dizia que o jantar demoraria um pouco, então pôs-se a relaxar, ouvindo música, olhando para o teto de seu quarto. Até que ouviu um grito através da porta (sempre) fechada:
-Vem jantar, 'tá na mesa!
E lá se pôs Josefina a encaminhar-se para a sala, com olhos já sonolentos.
Ao aproximar-se da mesa, encara uma tigela, e não o habitual prato colorido. Observou seu conteúdo: um líquido amarelado com algumas coisas boiando. Deve ser canja. Tudo bem.
Josefina, percebendo que a tal sopa estava um tanto quanto espessa, perguntou á mãe:
-O que é isso amarelo na canja?
E a mãe, com um sorriso abobado no rosto, respondeu:
-Ah, é para engrossar, estava muito rala, é farinha de milho!
Farinha. De. Milho. Tudo bem, Josefina estava com muita fome e resolveu ignorar este aspecto, mesmo a canja aparentando um ar meio doentio, algo meio pegajoso que se parece mais com uma gororoba de prisão a uma refeição noturna, encarou a fera.
Na canja havia arroz, um pedaço de batata aqui, um de cenoura acolá... até que ela viu.
Não podia ser.
Um. Pedaço. De. Fígado.
Mas não era apenas um pedaço, eram uns cinco pedaços, grandes, escuros, contorcidos, terríveis de se ver, pareciam vermes cegos em meio a uma poça de lama amarelada.
Josefina ama quase todos os tipos de comida, mas fígado é uma de suas poucas exceções. Não tem jeito, a aparência de órgão asqueroso, o gosto metálico, o gosto nem um pouco sutil, que fica na língua e é preciso escovar os dentes várias vezes, é demais para a pobre garota.
Josefina então pensou: "Posso comer essa gororoba pois estou com fome, mas esta carne marrom fétida eu não engulo nem morta". Mas como fazer isso, visto que sua mãe é fera revestida em pele de anjo? Um único passo em falso e ela explode acusando-a de recusar comida sagrada, provinda dos céus, e que milhares estão passando fome! Se Josefina dissesse qualquer coisa a respeito da comida, sua mãe diria que ela deveria procurar comida em outro lugar,  para então melhor satisfazer-se.
A garota então se viu sem escapatória, visto que sua mãe estava jantando perto dela, como iria livrar-se do maldito alimento? A resposta apareceu tão rápido quanto a pergunta foi formulada: Seu pai. Pegou então a tigela, e foi até o quarto do mesmo, porém as esperanças foram se extinguindo conforme andava na direção do cômodo, as luzes estavam apagadas...
Lá se foram as esperanças de Josefina. E agora, o que faria com cinco pedaços de fígado de algum animal, galinha, pombo, não importa, o que faria com eles?
Pensou... Havia um cachorro que habitava os fundos do prédio, ele não tinha dono, e vagabundeava por ai, indo e vindo. A janela da cozinha era virada para os fundos do prédio.
Na noite pacífica de julho, cinco pedacinhos de fígado cruzaram o céu e ( provavelmente) alimentaram um ser faminto que não tinha meios de se abastecer sozinho; Josefina é uma verdadeira heroína, e no final ainda lavou a louça.
Palmas.