Uma ex-presidente ( a única ) presidente se debrulha em lágrimas conforme desferem um golpe para retirá-la de seu lugar de poder.
Um ex-presidente, ( o boçal ) (( qual deles?)) aguenta firme conforme a iminência de sua prisão lhe interrompa as noites de sono.
Não! Espera! Eu poderia jurar que era ao contrário! Estou te gas-lightando.
Algo, que eu poderia descrever como o hiper-machismo que rege a sociedade como a sede dos zumbis por cérebro, faz com que o "feminino" nessa distinção porca de gêneros, puxe sempre para o negativo, e o "masculino", sempre para o positivo.
Me surpreendo com a quantidade de narrativas dos heróis homens, com suas esposas troféu ou resgates mirambolantes, achei Berserk insuportável não por menos.
O macho tem a liberdade de chorar. O super-ultra-macho pode julgar, pensando que o macho, na verdade, trata-se de uma fêmea, e pode ser estuprado, na medida em que não é mais alfa ou líder de porra nenhuma.
A maior questão da dominação entre machos é performática, tal qual o cachorro macho encoxando outros cachorros machos, ou fêmeas, na frente de todos. Não é libido, é apenas a vontade de dizer: eu sou superior a estes outros membros do bando.
Mas hoje, homens choram, homens podem chorar!
Na teoria, mulheres também poderiam, e deveriam.
Os homens, em toda a história e filosofia e privação do ensino formal e das artes, afirmavam:
Nós somos os heróis. As mulheres são o resto que chora por nós.
Nós agimos, elas sentem.
As mulheres lutaram muito para poderem dizer: Nós não apenas choramos.
Então quando uma mulher chora, pode ser o rasgo de sua alma atravessando as camadas de sua psique, mas para os trogloditas ignóbeis que acreditam em dar soco na cara do tubarão, ela confirma a teoria.
Tudo colapsa. Tudo vai por água abaixo. Como assim, mulheres não choram mais ( na teoria "agora são fortes" e estão chorando? logo: sempre dissemos que mulheres são fracas porque choram.)
Sempre vai ser levado ao negativo.
Enquanto o macho, bom.
O homem com flores é sentimental e diferente, é positivo.
Uma mulher com flores é previsível, é chato, é desinteressante, é negativo.
Um homem que chora se despe de sua fortaleza da masculinidade, e toda vez que o mito da masculinidade se dissolve em lágrimas é um novo espetáculo e uma grande comoção.
A queda da muralha da masculinidade é um evento.
Mesmo que isso aconteça todo dia, a toda hora. Porque a fortaleza da masculinidade é como aquele ursinho de pelúcia que tá cheio de ácaro fedorento sem cor sem olho e a criança não larga.
O fetiche em acreditar que é superior, que o falo é racional e a vulva é passional rege essa nação, e isso me frustra enormemente.
Muito se fala sobre o homem que não pôde chorar porque isso era coisa de garotinha.
Menos se fala sobre a garotinha que não pôde chorar porque não queria ser vista como uma escória da sociedade, fraca e dócil.
Ambos só queriam se sentir amparados, cansados, tristes, se expressar, jorrar os rios de emoção, dor, e o que mais, contidos pelas amarras sociais.
"Para de chorar" é uma das primeiras coisas que me lembro de me dizerem ao me verem chorar. O choro incomoda, quando vindo de uma personalidade não-heróica. Porque assim como uma cena de sexo não requisitada no meio de uma série, o choro emociona. E as pessoas não querem ser atingidas, e despidas de suas máscaras sociais.
A diferença é que hoje, se um homem chora publicamente, ele consegue o adjetivo "heróico" no mero ato de chorar.
Mesmo se ele for um criminoso.
Sempre irão ter aliados. Sempre irão se compadecer da sofrida dor do macho. No homem que chora, uns olham com desprezo, outros com admiração : "quem me dera eu pudesse chorar assim em casa".
O homem que chora em público é amparado por outros homens, e suas mulheres percebem essa poça de tristeza e como foram educadas para confortar, confortam.
E a mulher chora no escuro. Sozinha. Porque ninguém. Pode. Saber.