domingo, 25 de julho de 2021

carai

Depois de passar por Benjamin, podemos traçar um paralelo tanto com a juventude, quanto com as mais antigas geracoes:  Estes últimos abrindo mao de seu pontecial crítico e questionador, uma vez que acatam a informacao que lhe é transmitida, sua legitimacao esta apoiada com base na facilidade de apreensao e no número de pessoas que o afirmam, assegurando o aspecto de comunidade e pertencimento. Ao jovem, o que resta de seus sonhos, e quais sao suas ambicoes, uma vez que, diante do plano virtual, é dado que este passa a obter mais relevancia que o plano real, o mundo tatil, sensível, como ele é. 

Pela crise moral, ética, ambiental, cultural, que passamos, o cidadão se vê espremido, tal quanto se via no início do século vinte, conforme cita Benjamin. A questão a discutirmos é: No Brasil, não são as guerras dos países Europeus, mas as marcas e perjúrios que sofre a nossa recente democracia, o rastro de destruição de uma ética extrativista, que visa extrair, retirar tudo que lhe é oportuno, sem o cuidar desta mesma terra, ou seja: sem o ''trabalho'', a experiência do convívio com o meio, mas o querer desfrutar do mesmo, os fins, os tesouros, as vivências como fuga, a fuga como válvula de escape de tensão que assola o cidadão, as substâncias como experiências: o êxtase, o sair de si para poder vivenciar, como, então , vivenciar algo externo?

Será que, como afirma o artista visual e rapper Edgar, ''Os Sonhos São Mais Reais Que Aqui?'' Uma vez que esse mesmo indivíduo não é provido de tempo diante de todas as inseguranças inquietações e infortúnios frente a um estado ausente e hostil, tempo para experienciar, desfrutar, degustar, para que possa apreciar e apreender seu meio, o ócio criativo de Benjamin torna-se luxo. O mesmo afirma que a obra de arte perde seu Aqui e Agora, por meio de sua reprodutibilidade técnica. Talvez o cidadão contemporâneo que esboça as coreografias perdesse o vínculo coletivo do cerne da tradição da dança, os movimentos pensados e estruturados, plásticos, criando laços e traços em cada singular dançarino: Hoje é reproduzido o ''esquema dançante'', essa coreografia de, no máximo, dez segundos, um consumir da imagem, do corpo, principalmente corpos jovens. Por que traço o paralelo com este fenômeno? Pois é um advento da contemporaneidade, e que melhor teórico para discuti-lo que Benjamin? Também Bauman, mas quedemo-nos apenas com Benjamin.

Este afirma, então, que há essa constante que busca o grande cenário, vivências novas e vívidas, e assim podemos voltar ao quesito do mito do artista gênio, que chegaria com grandes realizações, que traria algo para além do ordinário para a plateia, sempre voraz. Devorando a arte, ou o entretenimento, o cidadão contemporâneo distrai-se de si, muitas vezes mal analisando, mal percebendo as entrelinhas de conteúdos, como em estado de entorpecimento. Logo, podemos afirmar que o não-experienciar culmina em um estado não crítico e não apreensivo do meio, mas sim o famoso ''Modo Automático'', que parece ter sido ultrapassado com o passar do século vinte, mas não o fez. A questão é que, hoje, temos meios muito mais rápidos, frenéticos, e a população aumentou consideravelmente. 

Pecamos no experienciar, uma vez que o indivíduo não foca em uma atividade, apenas, estabelecer um caminho, uma direção, mas a atenção do mesmo sendo direcionada para uma série de veículos, onde as próprias redes de significação são fluidas, os condutores midiáticos necessitam que haja sempre o consumir, o visualizar a propaganda que o sujeito muitas vezes é impelido a ver. 

 Benjamin afirma que essa experiência, esse passar o conhecimento verbal, a memória oral, é uma riqueza, e de fato o é. Sendo brasileiros, que sempre prezemos pela memória cultural e afetiva da culinária riquíssima, cuja memória é passada oralmente, que tesouro! Ou a capoeira, quantos mestres leram livros indicando como entoar os cantos? As memórias de nossos símbolos voltados para o fantástico que denominamos, muitas vezes de forma pejorativa, de folclore, dentre todas as histórias de lutas e sobrevivência neste mundo-espetáculo hostil desde o início dos tempos. Histórias são valiosas, por isso cabe a nós, que detemos a técnica, de passa-las ao papel.

Traço, por fim, um comentário assinalando a comicidade em se deparar com a figura de um Mickey Mouse durante a leitura e análise do texto: Decerto, a cultura estadunidense foi muito perspicaz em uma indústria de ''produção de sonhos'', um espaço opiático em que ''tudo é mágico'', onde o cidadão pode experienciar o que o mesmo acredita ser extra-ordinário. É interessante, pois muitos procuram este Extra nas substâncias, na religião, nos tais milagres, onde quer que seja, o indivíduo está sempre procurando, e por mais que sempre se depare com armadilhas, oasis itinerantes, rotas turvas, sempre desemboca em dentro de si mesmo, pois o ser não está apartado do corpo físico. Cabe a nós trabalharmos o lidar com nós mesmos, experienciar e escutar ativamente o outro.

segunda-feira, 19 de julho de 2021

mundo do ego, baby

 É compreensível: não existe “mundo da arte” em muitas das sociedades estudadas


atualmente por antropólogos, e no entanto essas sociedades produzem obras algumas das

quais são reconhecidas como “arte” pelo nosso “mundo da arte”.

terça-feira, 13 de julho de 2021

necessário

  requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço.

Jorge Larrosa Bondia