Filho, hoje eu vou contar lhe uma história de superação. Um
povo que abandonou sua zona de conforto, que depois de anos, séculos de
exploração, fez-se rugir, e, acredite, seu urro chacoalhou o país. Nosso povo.
Era o ano de 2013, seu pai tinha apenas 19 anos, e protestos
eclodiam aqui e acolá, reunindo milhares ás ruas do Rio de Janeiro. Esse povo,
filho, estava sendo feito de tolo, sem participação ativa, sem poder opinar,
pessoas passivas. E quando se perguntava sobre a satisfação com os governantes?
Só lástimas, reclamações, como ganidos de dor de um cão, como lamentos de uma
viúva, como se não pudessem fazer nada. Mas então foram ás ruas, brigaram, isso
por três anos, e sempre foram dissipados, calados, abafados.
No ano de 2016, foi aprovada a emenda que congelava os
gastos em saúde e educação por vinte anos. No ano de 2017,foi aprovada a
privatização de uma das mais importantes companhias de fornecimento de água, a
CEDAE. No mesmo ano , foi aprovada a reforma na previdência, que aumentava o
tempo de trabalho do brasileiro em quantidades absurdas, desumanas. Além disso,
o Estado estava falido, uma das principais universidades, a ponto de fechar,
servidores públicos, sem receber, sucateamento de universidades, unidades de
saúde, e muito descaso com o cidadão brasileiro. Era hora de algo acontecer, não podiam ficar
calados, não podiam deixar que aquele abuso de poder e desconsideração
continuassem abalando a população. Eis que, em uma faculdade privada no Rio de
Janeiro, surge um grupo proveniente do curso de ciências políticas, inconformado,
revoltado, bem organizado.
``Intrínsecos``, era o nome de seu grupo, de sua organização, e, através
de redes sociais, eles conseguiram reunir núcleos de diversas universidades,
comunicando-se entre si e organizando uma verdadeira rebelião. Porém, antes que
pudessem realmente arquitetar qualquer estratégia, um ramo desses manifestantes
em potencial resolveu se lançar nas ruas, dizendo que o tempo de espera já
havia esgotado. Essa parcela, denominada de ``atuantes``, realizou uma
gigantesca manifestação pelas ruas do Rio de Janeiro, com pedidos gritados,
ódio em forma de palavras, mas sem violência. Até que a polícia foi chamada, e,
com sprays de pimenta, forças de dispersão, bombas de efeito moral, os atuantes
largaram seus cartazes, lamberam suas feridas e partiram em retirada. Pessoas
caíam no chão, atordoadas, sem conseguir ver, sem saber como agir, sem uma voz
para obedecer, sem rumo. Seguiram-se mais cinco ou seis manifestações tolas
como essa, se não me engano.
A líder dos intrínsecos ficou irada. Argumentou que, sem
organização, é fácil a dispersão, a voz precisa ser mais alta. E afirmou que se
precisasse lutar, eles iriam lutar. Jade Drummond, seu nome. Com sua força de
vontade, discursou em dezenas de universidades, sendo aplaudida pelo seu
carisma, pela sua garra. Ela cativava multidões, e naquele dia, em sua última
reunião, não havia mais espaço para ouvintes, e eles se preparavam para o ato
decisivo. Chegou a convidar jovens de todos os estados, muitos dos quais não
puderam vir por precariedade financeira, porém, alguns das maiores
universidades de São Paulo e Minas gerais conseguiram se juntar, lotando o
auditório de um famoso colégio do centro. Até os Atuantes, com o rabo entre as pernas,
por ter ignorado as ordens e o planejamento inicial, estavam lá, todos fazendo
peso, uma força única e indignada preenchendo os peitos de cada um.
E Lá foram eles, não surgiram de um só lugar, ó, não. Jade
era espertíssima. Escondeu cada foco de pessoas em galpões abandonados, no
centro da cidade, cada um vinha de um lado, e a força em massa no meio.
Contando com o apoio de trabalhadores, servidores públicos, eles marcharam,
preparados, cada um com mochilas enormes, marchando em plena Avenida Rio
Branco, fechando o transito, com jingles , gritos e cartazes. A polícia já
havia sido acionada, mas nada foi feito, não por enquanto, eles apenas
observavam a aproximação dos jovens. O companheiro de Jade, Leonardo, carregava
seu megafone, transmitia ordens de Jade onde quer que eles fossem ela guiava os
estudantes e trabalhadores, sem dispersão, e encrencava com quem tentava ir
embora sem dizer nada. Ela suava, com sua blusa branca, cabelo preso em um rabo
de cavalo curto, seus olhos repletos de determinação. Depois de muito marchar,
chegaram ao destino principal: A Alerj, assembleia legislativa do Estado do Rio
de Janeiro. Os jovens encurralaram o enorme prédio, semelhante a um museu, por
todos os lados. A tropa de choque foi acionada, e uma grande grade de ferro foi
erguida, para que não transpassassem o limite por eles estabelecido. Gritaram e
urraram, e lá veio a polícia, de encontro com os manifestantes. O ataque
inicial foi com spray de pimenta, mas os Intrínsecos, tomando a vanguarda,
estavam preparados, com leite de magnésio, que neutralizava o spray de pimenta
e aliviava o efeito. Jade gritava para insistirem, passarem o líquido na face,
suados, a cara tingida de branco, o spray de pimenta fazia seus narizes
arderem, mas eles não sucumbiriam, os Intrínsecos estavam, de fato, dando seu
sangue para não ocorrer a dissipação das pessoas, por isso, alguns estavam
espalhados pelas partes posteriores da multidão, para impedir que houvesse
separações de blocos grandes. E eles continuavam avançando, em direção à grade,
em meio aos gritos e músicas plenamente elaboradas, avançando. Os policiais no
local estavam gritando também, tentando impedir a passagem, tentando fazer com
que essa multidão fosse para outro lugar. O exército foi convocado, assim como
policiais civis e municipais. Em um determinado momento, as unidades de polícia
pacificadora chegaram, mas isso é mais a frente.
Eles chegaram, e fizeram um grande cinturão, com suas
fardas, impedindo que avançassem mais. Em algum lugar da multidão, alguém jogou
uma famosa bomba caseira, conhecida como Coquetel Molotov, levando dois
policiais ao chão, atordoando-os com o estrondo, e as chamas começaram a se
propagar pelas roupas inflamáveis do povo. Agora sim, filho, o caos tinha
eclodido. Os policiais imediatamente fecharam esse buraco, disparando contra
eles com suas balas de borracha. Mas os Intrínsecos também haviam previsto
isso, armando-se com placas primitivas de latão, com acolchoamento, e
capacetes. Alguns dos que estavam na frente levaram tiros de bala de borracha
no rosto, e logo outros os substituíram. E Jade os liderava, a ponto de bater
de frente com um policial que não a deixava passar. Seus gritos eram ecoados
por Leonardo, que tentava acompanhar o pique da companheira. Bombas de efeito
moral começaram a eclodir, e lá iam os manifestantes ao chão novamente, com
seus olhos lacrimejando, dores em todo o corpo. Com muita força de vontade,
continuaram fazendo pressão, e continuaram lá, não sucumbiriam tão facilmente.
Bem ao lado do tumulto, havia um pequeno Pronto-Socorro
montado por estudantes de medicina da Universidade de São Paulo, e eles estavam
neutros no conflito, apenas ajudando a conter sangramentos e pessoas que
desmaiavam por conta das bombas de efeito moral.
Em um dado momento do conflito, os estudantes cansaram de
levar tiros de borracha na face, e, em um ato violento, tiraram pedras de suas
mochilas, e lançaram na direção dos policiais, que levantavam seus escudos,
alguns não a tempo, e acabavam levando pedradas no rosto. As pedras
ricocheteavam, caíam no chão, e lá iam os manifestantes novamente, contra
atacando. Com pedras e paus se faz uma revolução, pois bem. Mas, em sincronia
com isso, uma onda de bombas caseiras foi lançada, arquitetadas pelo líder de explosivos,
o químico Marcos Souza, e lançadas pela responsável de artilharia, Rita
Pereira. As bombas, lançadas ao mesmo tempo, trouxeram o cordão de isolamento
ao chão, e com isso, Jade liderou o caminho, passando por cima de policiais
caídos, ou de frestas entre eles. Com isso, o mutirão fez o mesmo, atropelando
uma série de policiais, que, desesperados, tentavam atirar para cima, agora com
armas mesmo, ainda caídos no chão. Em uma dessas, o companheiro de Jade levou
um tiro na perna, imediatamente foi levado para a enfermaria improvisada. Algum
companheiro de Jade tomou seu megafone e começou a realizar o trabalho de
Leonardo. Jade orientou a todos para não escalar a grade, pois muitos não
conseguiriam faze-lo e o bando se separaria. Tudo isso em meio ao caos total,
policiais atirando com armas de verdade em estudantes e trabalhadores, estes
retrucando de forma mais violenta, também, com tesouras, facas de cozinha,
cacos de vidro de garrafas, que, antes, continha leite de magnésio. Policiais e
resistência tingiam o chão de vermelho, homens caídos no asfalto, era uma
verdadeira guerra. Enquanto isso, Jade chamara mais núcleos espalhados pela
cidade, através de seu simples rádio, para ajudarem a derrubar a grade. Mais de
três camadas de pessoas, empurrando a grade, chutando, querendo que a força de
vontade deles fosse maior que a resistência do metal, e enquanto isso, a
polícia se localizava atrás, tentando impedi-los, e o estado de caos passou
para o de absurdo, com os fardados, empapados de sangue, com sua dignidade
abalada, atirando livremente nas costas dos manifestantes, como se ainda fossem
balas de borracha. Correr dali era impossível, pois a polícia estava tentando
encurralar o pessoal da grade, fechando-os com seus escudos, atirando
livremente. Ao mesmo tempo, havia os que não estavam na frente, oitenta por
cento das pessoas, que viram essa calamidade brotando, e, por meio da líder de infantaria,
Cláudia Soares. Ela gritava para que não hesitassem , esfaqueassem os policiais
pelas costas, assim como eles mesmos estavam fazendo. Não apenas isso, ela
convocou as forças que se localizavam atrás e dos lados para se juntarem e
funcionarem como um grande rolo compressor. Enquanto caíam estudantes na grade,
policiais eram apedrejados até a morte, chutados, esfaqueados, cortados,
pisados, esmagados. A grade chacoalhava, e estava a ponto de cair. Reforços de
policiais chegavam de ônibus, gritando ordens de recuar o avanço para os manifestantes,
mas a voz deles era mais alta, através de caixas de som vinculadas a
aparelhagens complexas. Derrubada a
grade, a vanguarda e infantaria correram em direção ao prédio, deixando
infantaria, alas e retaguarda para trás, na luta tremenda contra os policiais.
Mais uma onda de bombas caseiras foi lançada, diretamente na direção dos
fardados que corriam em direção a eles. Fogo ainda consumia e fragmentava a
roupa de muitos cidadãos, que ficavam desesperados. A polícia determinou que, para conseguir
acabar com a resistência, a chave seria atacar os responsáveis pela recuperação
dos feridos, os que estavam ajudando ao máximo para colocar os combatentes de
volta a batalha.
Pensado isso, lá foram eles em direção a ala médica, em
pleno céu aberto, até que um dos trinta médicos do local, avistou o movimento
se deslocando para o lado deles, informou aos outros, que já haviam pensado que
isso poderia acontecer. Estando os médicos com máscaras, jogaram-se frascos de
vidro, abertos, contendo clorofórmio, na direção dos policiais. O vidro se
estilhaçava em seus escudos, mas o conteúdo se espalhava, respingava em seus
rostos ou nos dos companheiros, e , após acabarem com o estoque, já havia
muitos fardados no chão, caídos, desmaiados. Ao mesmo tempo, os remanescentes
abriam fogo contra os médicos e enfermeiros, que, sem mais o que fazer, corriam
desesperados, com seus uniformes brancos por cima de mais placas de latão, em
que as balas atravessavam facilmente. Os pobres médicos, sem mais armas,
correram em desespero, mas nada os salvou dos beijos mortais das balas, e logo
estavam eles de joelhos, em uma queda dramática até o chão, e lá repousariam.
Indignados com essa situação, infantaria e retaguarda resolveram ir vingar os
que sucumbiram um momento antes, deixando alas esquerda e direita sozinhos.
Esses, estavam em um embate contra os policiais feridos, tentando arrancar de
suas mãos as armas e cassetetes. Dos soldados desmaiados, foi feito o mesmo, e
assim, os estudantes estavam providos de armas de fogo, embora a não tivessem a
habilidade de maneja-las. Chegando a Alerj, Jade e os líderes Intrínsecos
chamavam todos para tentar arrombar a porta, lidar com os seguranças. Não foi
preciso, quebraram janelas, essas de importante valor para o patrimônio histórico
material, e por elas entraram, duas filas em alas opostas do enorme mausoléu. Os
políticos que se encontravam no interior saíam correndo, clamando por seus seguranças,
amaldiçoando os jovens, xingando-nos de todos os nomes possíveis. Só se
escutava aquelas enormes portas de madeira da lei se fechando e os trincos
sendo ativados, estavam com muito medo, esses detentores do poder. Com maior
número, o grupo de Jade marchava vigorosamente por dentre o lugar, passando por
estátuas greco-romanas e pinturas caríssimas, arquitetura de ponta. Caminhavam
ao som de suas canções, de suas reinvindicações, de seus sonhos para o futuro,
embora suados, machucados, com olhos e narizes ardendo, e muitos outros
sintomas que teriam feito qualquer um parar. Mas não aquela multidão. Eles
tinham propósito e tinham energia e agora que a coisa tinha atingido um nível
exacerbado, não poderia haver recuo, apenas seguir com o plano, tentar obter o
objetivo, que não seria matar nenhum politico, afinal, aquilo não seria nenhuma
revolução francesa versão Brasil, não. Eles só precisavam ser ouvidos,
transmitir uma mensagem. Ao chegar a câmara principal, os que lá estavam
tentaram atingir a saída, mas os manifestantes as bloquearam. Jade, então, para
não perder tempo, cumprimentou o prefeito, governador e os deputados, sempre
com alguns de seu grupo atrás, subiu no pequeno palco, se posicionou sobre o
palanque, ajeitou o microfone a sua altura, ligeiramente menor que a dos
deputados que antes discursavam, e começou a falar.
Falou sobre como o povo não era
ouvido, como eles precisaram armar tudo isso para conseguir uma resposta, como
foi importante que eles estivessem lá para ouvir suas palavras, e que o sangue
que foi derramado hoje seria o sangue imaterial que escorre dos olhos dos
brasileiros ao se deparar com tais emendas e projetos de lei absurdos, e que manifestações
pacíficas não estavam funcionando, o espetáculo sombrio desse dia foi apenas
uma forma de chamar a atenção, deveria ser formado um vínculo entre governo e
povo, e não um confronto, com a policia responsável por manter o povo longe, não. Nesse meio tempo, enquanto ela realizava seu
discurso, os poucos políticos presentes saíram dos extremos do salão e se
direcionaram para um espaço no fundo do salão, embaixo da arquibancada elevada,
onde havia uma porta discreta na parede, e que quem estivesse discursando não perceberia
quaisquer movimento lá ocorrido. Pois bem, Jade não estava prestando atenção, atônita
a seu discurso, e os outros se encantavam com suas palavras, filmando com
equipamentos modernos, pretendendo difundir aquilo mundialmente. Até que, por
essa mesma porta, entra o exército, junto com a unidade de polícia
pacificadora. Não havia mais jeito, os jovens estavam cansados, feridos,
enquanto os outros estavam descansados e sedentos por batalhas. Não houve
conversa, eles irromperam da pequena porta, mas uma quantidade interminável
deles, e abriram fogo. Com metralhadoras, armas de alto calibre, todo o tipo de
munição, contra esses jovens que praticamente já tinham se rendido. Eles
corriam, mas nesse meio tempo, eram atingidos, e mais uma vez, agora tingiam os
ricos carpetes e o mármore do enorme salão de três níveis. Não apenas atiravam para
frente, mas em quem estava na arquibancada também, ás vezes errando, quebrando
cada vez mais o enorme lustre que se encontrava dependurado no teto, passando
pelos três andares abertos do salão. No final, com tantos tiros, o caos
reinando, protestantes caindo como folhas no outono, os outros, remanescentes
do lado de fora, em estado deplorável, tentaram ajudar, e, em um movimento
desesperado, deram mais alguns tiros no suporte do lustre, e lá foi ele, de
encontro ao chão, ou melhor, de encontro com o exército e as tropas de unidade
pacificadora. O lustre era gigantesco, e deixou muitos feridos, enquanto os
manifestantes entenderam que era hora de dispersão, de ir embora. No final,
eram cerca de cinquenta. Isso era muito pouco. Corpos restavam caídos no salão,
baleados, cortados pelo lustre, espancados, pisoteados. As baixas eram assustadoras.
Quando saíram do salão, quase escorregando com a abundancia de sangue que havia
no mármore cor de creme, agora tremendamente manchado de vermelho escuro. Utilizaram
a pequena porta, todos correndo, sorrateiros, bolando um plano de fuga, fugindo
dos soldados e da polícia, mas era tarde. Ao abrir a porta, viram o cenário de desolação.
O mausoléu, depredado, pichado, não era esse o objetivo. Mas esse era o menor
dos problemas. Estátuas quebradas, pinturas rasgadas... Mas as vidas. Tantas
vidas que, naquele dia, deixaram de ser. Médicos, enfermeiros, estudantes,
trabalhadores, policiais, exército, todos eles, mortos. Todos eles, vítimas. Os
que realmente foram culpados? Saíram de helicóptero quando as coisas ficaram
ruins, os sagrados e inalcançáveis. Os que põem a mão na massa não passam de
fantoches, não passam de marionetes, e a luta contra as marionetes não adiantou
muita coisa. Foram presos. Os cinquenta e poucos remanescentes, foram presos
por mais de dez anos, por diversos motivos. Eu consegui escapar, o único, pus
meu chapéu coco de redator e meu casaco marrom, me passei por um jornalista que
estava filmando o caos. Chorei pelos meus companheiros, principalmente os que não
estavam mais comigo, com certeza, mas além disso: Tive que provar que aquilo não
era suficiente, que eu precisava mostrar ao mundo o que estávamos passando, os
ataques, ataques a pessoas desarmadas, violência de todos os níveis, que
chacoalharia uma década, e a próxima. Precisava mostrar como o governo tratava
um povo agoniado, angustiado, oprimido. E o fiz. O discurso de Jade está nas
redes sociais até hoje, ainda emociona muita gente, mas a pior parte é quando
os policiais chegam, atirando sem ao menos pensar, e conseguimos ver no vídeo o
corpo dela dançando conforme as balas o atingem, uma por uma. Nunca vou me
esquecer do espírito de luta e bravura daquela mulher. Todo ano, milhares de
estudantes, professores, colegas de curso, trabalhadores, colocam flores em seu
túmulo, ela se tornou um grande ícone.
O mundo não mudou, filho. Mas foi
chacoalhado. E as mudanças acontecem de maneira lenta, gradual. O importante é
que as pessoas perceberam a dor, perceberam o envolvimento, saíram do conforto,
e aderiram ao confronto, fazendo o governo nos temer, e não o contrario. Foram
a luta, e ainda o fazem até hoje. Podem ter cravado com balas o corpo de Jade e
de centenas de estudantes, mas o discurso deles não morreu, ele está nas bocas
de todos, não conseguiram abafar os murmúrios, os sussurros, os picos de
revolta, não conseguiram acabar com a chama que nos movia. Apenas atiçaram-na.
Enfim, estou falando demais. Vai
lá, filho, vai brincar. Escreva sua própria história.