quinta-feira, 30 de março de 2017

mais um texto de nove linhas muito sem noção

Queria escrever, mas muito cansada, pois passei o dia inteiro na faculdade, das sete da manha às dez da noite
Queria cansadar, escrita muito mas, dois inteirei o pio facultativo na, das manhas de sete da noite das dez
Noitia dezar, paz cansada da manha no dia passuldade pois oito e manha e sete e números
Setia Pazar, das cansada do noidia do oidez da passdade da saudade de paz de números
Cansada de noidiar, pazas oido saudadiada, dois saudade númeraz das setas e do pesar
Paseria saudadiar, cansada setasnumeraz pois noidiei doido a pesar
Cansadaria setasnumerazaria, paz pesar vou ficar doida de tanto estudar

FIM

quarta-feira, 29 de março de 2017

Legado

Filho, hoje eu vou contar lhe uma história de superação. Um povo que abandonou sua zona de conforto, que depois de anos, séculos de exploração, fez-se rugir, e, acredite, seu urro chacoalhou o país. Nosso povo.
Era o ano de 2013, seu pai tinha apenas 19 anos, e protestos eclodiam aqui e acolá, reunindo milhares ás ruas do Rio de Janeiro. Esse povo, filho, estava sendo feito de tolo, sem participação ativa, sem poder opinar, pessoas passivas. E quando se perguntava sobre a satisfação com os governantes? Só lástimas, reclamações, como ganidos de dor de um cão, como lamentos de uma viúva, como se não pudessem fazer nada. Mas então foram ás ruas, brigaram, isso por três anos, e sempre foram dissipados, calados, abafados.
No ano de 2016, foi aprovada a emenda que congelava os gastos em saúde e educação por vinte anos. No ano de 2017,foi aprovada a privatização de uma das mais importantes companhias de fornecimento de água, a CEDAE. No mesmo ano , foi aprovada a reforma na previdência, que aumentava o tempo de trabalho do brasileiro em quantidades absurdas, desumanas. Além disso, o Estado estava falido, uma das principais universidades, a ponto de fechar, servidores públicos, sem receber, sucateamento de universidades, unidades de saúde, e muito descaso com o cidadão brasileiro.  Era hora de algo acontecer, não podiam ficar calados, não podiam deixar que aquele abuso de poder e desconsideração continuassem abalando a população. Eis que, em uma faculdade privada no Rio de Janeiro, surge um grupo proveniente do curso de ciências políticas, inconformado, revoltado, bem organizado.  ``Intrínsecos``, era o nome de seu grupo, de sua organização, e, através de redes sociais, eles conseguiram reunir núcleos de diversas universidades, comunicando-se entre si e organizando uma verdadeira rebelião. Porém, antes que pudessem realmente arquitetar qualquer estratégia, um ramo desses manifestantes em potencial resolveu se lançar nas ruas, dizendo que o tempo de espera já havia esgotado. Essa parcela, denominada de ``atuantes``, realizou uma gigantesca manifestação pelas ruas do Rio de Janeiro, com pedidos gritados, ódio em forma de palavras, mas sem violência. Até que a polícia foi chamada, e, com sprays de pimenta, forças de dispersão, bombas de efeito moral, os atuantes largaram seus cartazes, lamberam suas feridas e partiram em retirada. Pessoas caíam no chão, atordoadas, sem conseguir ver, sem saber como agir, sem uma voz para obedecer, sem rumo. Seguiram-se mais cinco ou seis manifestações tolas como essa, se não me engano.
A líder dos intrínsecos ficou irada. Argumentou que, sem organização, é fácil a dispersão, a voz precisa ser mais alta. E afirmou que se precisasse lutar, eles iriam lutar. Jade Drummond, seu nome. Com sua força de vontade, discursou em dezenas de universidades, sendo aplaudida pelo seu carisma, pela sua garra. Ela cativava multidões, e naquele dia, em sua última reunião, não havia mais espaço para ouvintes, e eles se preparavam para o ato decisivo. Chegou a convidar jovens de todos os estados, muitos dos quais não puderam vir por precariedade financeira, porém, alguns das maiores universidades de São Paulo e Minas gerais conseguiram se juntar, lotando o auditório de um famoso colégio do centro.  Até os Atuantes, com o rabo entre as pernas, por ter ignorado as ordens e o planejamento inicial, estavam lá, todos fazendo peso, uma força única e indignada preenchendo os peitos de cada um.
E Lá foram eles, não surgiram de um só lugar, ó, não. Jade era espertíssima. Escondeu cada foco de pessoas em galpões abandonados, no centro da cidade, cada um vinha de um lado, e a força em massa no meio. Contando com o apoio de trabalhadores, servidores públicos, eles marcharam, preparados, cada um com mochilas enormes, marchando em plena Avenida Rio Branco, fechando o transito, com jingles , gritos e cartazes. A polícia já havia sido acionada, mas nada foi feito, não por enquanto, eles apenas observavam a aproximação dos jovens. O companheiro de Jade, Leonardo, carregava seu megafone, transmitia ordens de Jade onde quer que eles fossem ela guiava os estudantes e trabalhadores, sem dispersão, e encrencava com quem tentava ir embora sem dizer nada. Ela suava, com sua blusa branca, cabelo preso em um rabo de cavalo curto, seus olhos repletos de determinação. Depois de muito marchar, chegaram ao destino principal: A Alerj, assembleia legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Os jovens encurralaram o enorme prédio, semelhante a um museu, por todos os lados. A tropa de choque foi acionada, e uma grande grade de ferro foi erguida, para que não transpassassem o limite por eles estabelecido. Gritaram e urraram, e lá veio a polícia, de encontro com os manifestantes. O ataque inicial foi com spray de pimenta, mas os Intrínsecos, tomando a vanguarda, estavam preparados, com leite de magnésio, que neutralizava o spray de pimenta e aliviava o efeito. Jade gritava para insistirem, passarem o líquido na face, suados, a cara tingida de branco, o spray de pimenta fazia seus narizes arderem, mas eles não sucumbiriam, os Intrínsecos estavam, de fato, dando seu sangue para não ocorrer a dissipação das pessoas, por isso, alguns estavam espalhados pelas partes posteriores da multidão, para impedir que houvesse separações de blocos grandes. E eles continuavam avançando, em direção à grade, em meio aos gritos e músicas plenamente elaboradas, avançando. Os policiais no local estavam gritando também, tentando impedir a passagem, tentando fazer com que essa multidão fosse para outro lugar. O exército foi convocado, assim como policiais civis e municipais. Em um determinado momento, as unidades de polícia pacificadora chegaram, mas isso é mais a frente.
Eles chegaram, e fizeram um grande cinturão, com suas fardas, impedindo que avançassem mais. Em algum lugar da multidão, alguém jogou uma famosa bomba caseira, conhecida como Coquetel Molotov, levando dois policiais ao chão, atordoando-os com o estrondo, e as chamas começaram a se propagar pelas roupas inflamáveis do povo. Agora sim, filho, o caos tinha eclodido. Os policiais imediatamente fecharam esse buraco, disparando contra eles com suas balas de borracha. Mas os Intrínsecos também haviam previsto isso, armando-se com placas primitivas de latão, com acolchoamento, e capacetes. Alguns dos que estavam na frente levaram tiros de bala de borracha no rosto, e logo outros os substituíram. E Jade os liderava, a ponto de bater de frente com um policial que não a deixava passar. Seus gritos eram ecoados por Leonardo, que tentava acompanhar o pique da companheira. Bombas de efeito moral começaram a eclodir, e lá iam os manifestantes ao chão novamente, com seus olhos lacrimejando, dores em todo o corpo. Com muita força de vontade, continuaram fazendo pressão, e continuaram lá, não sucumbiriam tão facilmente.
Bem ao lado do tumulto, havia um pequeno Pronto-Socorro montado por estudantes de medicina da Universidade de São Paulo, e eles estavam neutros no conflito, apenas ajudando a conter sangramentos e pessoas que desmaiavam por conta das bombas de efeito moral.
Em um dado momento do conflito, os estudantes cansaram de levar tiros de borracha na face, e, em um ato violento, tiraram pedras de suas mochilas, e lançaram na direção dos policiais, que levantavam seus escudos, alguns não a tempo, e acabavam levando pedradas no rosto. As pedras ricocheteavam, caíam no chão, e lá iam os manifestantes novamente, contra atacando. Com pedras e paus se faz uma revolução, pois bem. Mas, em sincronia com isso, uma onda de bombas caseiras foi lançada, arquitetadas pelo líder de explosivos, o químico Marcos Souza, e lançadas pela responsável de artilharia, Rita Pereira. As bombas, lançadas ao mesmo tempo, trouxeram o cordão de isolamento ao chão, e com isso, Jade liderou o caminho, passando por cima de policiais caídos, ou de frestas entre eles. Com isso, o mutirão fez o mesmo, atropelando uma série de policiais, que, desesperados, tentavam atirar para cima, agora com armas mesmo, ainda caídos no chão. Em uma dessas, o companheiro de Jade levou um tiro na perna, imediatamente foi levado para a enfermaria improvisada. Algum companheiro de Jade tomou seu megafone e começou a realizar o trabalho de Leonardo. Jade orientou a todos para não escalar a grade, pois muitos não conseguiriam faze-lo e o bando se separaria. Tudo isso em meio ao caos total, policiais atirando com armas de verdade em estudantes e trabalhadores, estes retrucando de forma mais violenta, também, com tesouras, facas de cozinha, cacos de vidro de garrafas, que, antes, continha leite de magnésio. Policiais e resistência tingiam o chão de vermelho, homens caídos no asfalto, era uma verdadeira guerra. Enquanto isso, Jade chamara mais núcleos espalhados pela cidade, através de seu simples rádio, para ajudarem a derrubar a grade. Mais de três camadas de pessoas, empurrando a grade, chutando, querendo que a força de vontade deles fosse maior que a resistência do metal, e enquanto isso, a polícia se localizava atrás, tentando impedi-los, e o estado de caos passou para o de absurdo, com os fardados, empapados de sangue, com sua dignidade abalada, atirando livremente nas costas dos manifestantes, como se ainda fossem balas de borracha. Correr dali era impossível, pois a polícia estava tentando encurralar o pessoal da grade, fechando-os com seus escudos, atirando livremente. Ao mesmo tempo, havia os que não estavam na frente, oitenta por cento das pessoas, que viram essa calamidade brotando, e, por meio da líder de infantaria, Cláudia Soares. Ela gritava para que não hesitassem , esfaqueassem os policiais pelas costas, assim como eles mesmos estavam fazendo. Não apenas isso, ela convocou as forças que se localizavam atrás e dos lados para se juntarem e funcionarem como um grande rolo compressor. Enquanto caíam estudantes na grade, policiais eram apedrejados até a morte, chutados, esfaqueados, cortados, pisados, esmagados. A grade chacoalhava, e estava a ponto de cair. Reforços de policiais chegavam de ônibus, gritando ordens de recuar o avanço para os manifestantes, mas a voz deles era mais alta, através de caixas de som vinculadas a aparelhagens complexas.  Derrubada a grade, a vanguarda e infantaria correram em direção ao prédio, deixando infantaria, alas e retaguarda para trás, na luta tremenda contra os policiais. Mais uma onda de bombas caseiras foi lançada, diretamente na direção dos fardados que corriam em direção a eles. Fogo ainda consumia e fragmentava a roupa de muitos cidadãos, que ficavam desesperados.  A polícia determinou que, para conseguir acabar com a resistência, a chave seria atacar os responsáveis pela recuperação dos feridos, os que estavam ajudando ao máximo para colocar os combatentes de volta a batalha.
Pensado isso, lá foram eles em direção a ala médica, em pleno céu aberto, até que um dos trinta médicos do local, avistou o movimento se deslocando para o lado deles, informou aos outros, que já haviam pensado que isso poderia acontecer. Estando os médicos com máscaras, jogaram-se frascos de vidro, abertos, contendo clorofórmio, na direção dos policiais. O vidro se estilhaçava em seus escudos, mas o conteúdo se espalhava, respingava em seus rostos ou nos dos companheiros, e , após acabarem com o estoque, já havia muitos fardados no chão, caídos, desmaiados. Ao mesmo tempo, os remanescentes abriam fogo contra os médicos e enfermeiros, que, sem mais o que fazer, corriam desesperados, com seus uniformes brancos por cima de mais placas de latão, em que as balas atravessavam facilmente. Os pobres médicos, sem mais armas, correram em desespero, mas nada os salvou dos beijos mortais das balas, e logo estavam eles de joelhos, em uma queda dramática até o chão, e lá repousariam. Indignados com essa situação, infantaria e retaguarda resolveram ir vingar os que sucumbiram um momento antes, deixando alas esquerda e direita sozinhos. Esses, estavam em um embate contra os policiais feridos, tentando arrancar de suas mãos as armas e cassetetes. Dos soldados desmaiados, foi feito o mesmo, e assim, os estudantes estavam providos de armas de fogo, embora a não tivessem a habilidade de maneja-las. Chegando a Alerj, Jade e os líderes Intrínsecos chamavam todos para tentar arrombar a porta, lidar com os seguranças. Não foi preciso, quebraram janelas, essas de importante valor para o patrimônio histórico material, e por elas entraram, duas filas em alas opostas do enorme mausoléu. Os políticos que se encontravam no interior saíam correndo, clamando por seus seguranças, amaldiçoando os jovens, xingando-nos de todos os nomes possíveis. Só se escutava aquelas enormes portas de madeira da lei se fechando e os trincos sendo ativados, estavam com muito medo, esses detentores do poder. Com maior número, o grupo de Jade marchava vigorosamente por dentre o lugar, passando por estátuas greco-romanas e pinturas caríssimas, arquitetura de ponta. Caminhavam ao som de suas canções, de suas reinvindicações, de seus sonhos para o futuro, embora suados, machucados, com olhos e narizes ardendo, e muitos outros sintomas que teriam feito qualquer um parar. Mas não aquela multidão. Eles tinham propósito e tinham energia e agora que a coisa tinha atingido um nível exacerbado, não poderia haver recuo, apenas seguir com o plano, tentar obter o objetivo, que não seria matar nenhum politico, afinal, aquilo não seria nenhuma revolução francesa versão Brasil, não. Eles só precisavam ser ouvidos, transmitir uma mensagem. Ao chegar a câmara principal, os que lá estavam tentaram atingir a saída, mas os manifestantes as bloquearam. Jade, então, para não perder tempo, cumprimentou o prefeito, governador e os deputados, sempre com alguns de seu grupo atrás, subiu no pequeno palco, se posicionou sobre o palanque, ajeitou o microfone a sua altura, ligeiramente menor que a dos deputados que antes discursavam, e começou a falar.
Falou sobre como o povo não era ouvido, como eles precisaram armar tudo isso para conseguir uma resposta, como foi importante que eles estivessem lá para ouvir suas palavras, e que o sangue que foi derramado hoje seria o sangue imaterial que escorre dos olhos dos brasileiros ao se deparar com tais emendas e projetos de lei absurdos, e que manifestações pacíficas não estavam funcionando, o espetáculo sombrio desse dia foi apenas uma forma de chamar a atenção, deveria ser formado um vínculo entre governo e povo, e não um confronto, com a policia responsável por manter o povo longe, não.  Nesse meio tempo, enquanto ela realizava seu discurso, os poucos políticos presentes saíram dos extremos do salão e se direcionaram para um espaço no fundo do salão, embaixo da arquibancada elevada, onde havia uma porta discreta na parede, e que quem estivesse discursando não perceberia quaisquer movimento lá ocorrido. Pois bem, Jade não estava prestando atenção, atônita a seu discurso, e os outros se encantavam com suas palavras, filmando com equipamentos modernos, pretendendo difundir aquilo mundialmente. Até que, por essa mesma porta, entra o exército, junto com a unidade de polícia pacificadora. Não havia mais jeito, os jovens estavam cansados, feridos, enquanto os outros estavam descansados e sedentos por batalhas. Não houve conversa, eles irromperam da pequena porta, mas uma quantidade interminável deles, e abriram fogo. Com metralhadoras, armas de alto calibre, todo o tipo de munição, contra esses jovens que praticamente já tinham se rendido. Eles corriam, mas nesse meio tempo, eram atingidos, e mais uma vez, agora tingiam os ricos carpetes e o mármore do enorme salão de três níveis. Não apenas atiravam para frente, mas em quem estava na arquibancada também, ás vezes errando, quebrando cada vez mais o enorme lustre que se encontrava dependurado no teto, passando pelos três andares abertos do salão. No final, com tantos tiros, o caos reinando, protestantes caindo como folhas no outono, os outros, remanescentes do lado de fora, em estado deplorável, tentaram ajudar, e, em um movimento desesperado, deram mais alguns tiros no suporte do lustre, e lá foi ele, de encontro ao chão, ou melhor, de encontro com o exército e as tropas de unidade pacificadora. O lustre era gigantesco, e deixou muitos feridos, enquanto os manifestantes entenderam que era hora de dispersão, de ir embora. No final, eram cerca de cinquenta. Isso era muito pouco. Corpos restavam caídos no salão, baleados, cortados pelo lustre, espancados, pisoteados. As baixas eram assustadoras. Quando saíram do salão, quase escorregando com a abundancia de sangue que havia no mármore cor de creme, agora tremendamente manchado de vermelho escuro. Utilizaram a pequena porta, todos correndo, sorrateiros, bolando um plano de fuga, fugindo dos soldados e da polícia, mas era tarde. Ao abrir a porta, viram o cenário de desolação. O mausoléu, depredado, pichado, não era esse o objetivo. Mas esse era o menor dos problemas. Estátuas quebradas, pinturas rasgadas... Mas as vidas. Tantas vidas que, naquele dia, deixaram de ser. Médicos, enfermeiros, estudantes, trabalhadores, policiais, exército, todos eles, mortos. Todos eles, vítimas. Os que realmente foram culpados? Saíram de helicóptero quando as coisas ficaram ruins, os sagrados e inalcançáveis. Os que põem a mão na massa não passam de fantoches, não passam de marionetes, e a luta contra as marionetes não adiantou muita coisa. Foram presos. Os cinquenta e poucos remanescentes, foram presos por mais de dez anos, por diversos motivos. Eu consegui escapar, o único, pus meu chapéu coco de redator e meu casaco marrom, me passei por um jornalista que estava filmando o caos. Chorei pelos meus companheiros, principalmente os que não estavam mais comigo, com certeza, mas além disso: Tive que provar que aquilo não era suficiente, que eu precisava mostrar ao mundo o que estávamos passando, os ataques, ataques a pessoas desarmadas, violência de todos os níveis, que chacoalharia uma década, e a próxima. Precisava mostrar como o governo tratava um povo agoniado, angustiado, oprimido. E o fiz. O discurso de Jade está nas redes sociais até hoje, ainda emociona muita gente, mas a pior parte é quando os policiais chegam, atirando sem ao menos pensar, e conseguimos ver no vídeo o corpo dela dançando conforme as balas o atingem, uma por uma. Nunca vou me esquecer do espírito de luta e bravura daquela mulher. Todo ano, milhares de estudantes, professores, colegas de curso, trabalhadores, colocam flores em seu túmulo, ela se tornou um grande ícone.
O mundo não mudou, filho. Mas foi chacoalhado. E as mudanças acontecem de maneira lenta, gradual. O importante é que as pessoas perceberam a dor, perceberam o envolvimento, saíram do conforto, e aderiram ao confronto, fazendo o governo nos temer, e não o contrario. Foram a luta, e ainda o fazem até hoje. Podem ter cravado com balas o corpo de Jade e de centenas de estudantes, mas o discurso deles não morreu, ele está nas bocas de todos, não conseguiram abafar os murmúrios, os sussurros, os picos de revolta, não conseguiram acabar com a chama que nos movia. Apenas atiçaram-na.
Enfim, estou falando demais. Vai lá, filho, vai brincar. Escreva sua própria história.