Quarta-feira. Tao perto do fim de semana, mas ainda com
tantos obstáculos. Um dia de sol usual. Os raios de sol penetravam no meu coro
cabeludo, feriam minhas retinas e me deixavam com dor de cabeça. Cheguei ao consultório
médico, meu livro em mãos, esperando pelas notícias corriqueiras. Meu nome foi
chamado. Entrei como quem não quer nada. Disse á medica o quanto era ruim não respirar
de um lado. O quanto me prejudicava. De praxe. Mas em vez de me dispensar em
cinco minutos como o último médico fizera, esta resolveu gastar mais alguns
minutos com minha pessoa. Examinou meu nariz com um aparelho de endoscopia,
demorou-se na narina esquerda, defeituosa. E fiquei aguardando suas instruções.
Ao sentar novamente na cadeira principal, lá veio ela me dizer as boas novas. Disse-me
que eu poderia realizar a cirurgia. Eu poderia respirar normalmente pela
primeira vez em minha breve vida. Eu poderia realizar exercícios físicos sem
ficar vermelha como um tomate. Eu poderia dormir de boca fechada. Eu poderia
dar um jeito em meu nariz torto e adunco. No momento em que ela disse isso,
lágrimas iam se formando em meus olhos. Disse a mim mesma que não choraria, não
o fiz. Mas me emocionei muito. Vou experimentar respirar perfeitamente em pouco
tempo, não consigo nem acreditar nisso. Vou me sentir como um surdo escutando
pela primeira vez. Foi um momento de alegria extrema. Ao voltar para casa,
estava me sentindo mais leve. Como se para me acolher, o tempo fechara
rapidamente. O dia, antes claro, estava escuro e permeado de nuvens, milhares
delas. Gotas de chuva começaram a cair, cobrindo-me da cabeça aos pés. Os
pedestres corriam para as marquises, para seus lares, com guarda-chuvas e
capas. Mas eu não. Em menos de dois meses, eu sentiria o cheiro inteiro da
chuva. E eu me sentia abençoada pela chuva fria me abraçando, me parabenizando.
Vão quebrar meu nariz. Eu não poderia estar mais feliz.