Estava eu em um luau hoje mais cedo, e precisava deixar meu
sono em dia. Logo, percebi que a única solução cabível seria não dormir. E
agora estou indo até a tijuca, de metrô. Sei lá, o metrô e engraçado. Você
encontra todo o tipo de pessoas por aqui, famílias unidas, amigos, namorados,
colegas, inimigos, conhecidos. Ao mesmo tempo que terá um trabalhador apoiado
na parede, cansado de um dia árduo de trabalho, temos um turista eufórico do
lado falando um idioma estrangeiro. Ao mesmo tempo que temos linhas nas áreas
nobres, temos nas áreas mais precárias, e no metrô temos a ligação, a junção
delas. Ricos e pobres se misturam, todos estão lá para chegar a um objetivo, a
maioria ansiosa para conseguir chegar ao seu destino. Droga, faltam 17 minutos
para as onze, horário que marquei com minha tia. Odeio chegar atrasada vei. E
estou na central ainda, ferrou. Estou ouvindo Halestorm, é bom pois dá uma
emoção no pacato ato de ficar no metrô sentada e digitando. Eu adoro ficar
digitando aleatoriedades, principalmente se estiver ouvindo música, me imagino
no próprio clipe musical, mesmo que em um clipe musical muito ruim onde a
protagonista fique digitando em seu aparato o vídeo todo. Estou digitando pois
se eu não o fizer vou ficar parada olhando para o nada e talvez cairei no sono,
e não é esse o objetivo. Claro, eu também tenho meu livro, meu querido livro
escrito pelo George R. R. Martin (Não, não é canção de gelo e fogo) mas não
conseguiria me focar e prender nas palavras, iria ler uma ou duas frases e
depois mergulharia de cabeça nas palavras, literalmente, eu cairia no sono
mesmo com essa leitura extraordinária. Quando estava descendo as infindáveis
escadas da estação Cardeal Arcoverde, pensei que minhas músicas estivessem
muito baixas, e não gosto disso, para mim ou eu ouço música na altura adequada
ou não ouço, música baixa não é comigo. Mas é tenso pois ficarei com a audição
ferrada no futuro. Ah, ações a curto prazo, por que tão tentadoras? Agora falta
apenas duas estações, e então terei que caminhar um bocado até a casa da minha
tia. Só de pensar na enorme ladeira e escadaria que me aguardam, me dá
desânimo. Mas é por uma causa nobre, ela me ajudará financeiramente.... Ah,
minha questão monetária conturbada... E assim vou seguindo, pelo monótono
metrô, e assim continuo com minha disparidade: Um metrô monótono e chato e
música agitada e efervescente. Eu até usaria o Wi-fi daqui mas precisa fazer
cadastro e essas paradas burocráticas não são para mim. Olha, acho que
chegamos. Não consegui ouvir a mulher falando, tamanha a altura da música nos
meus fones. Bom, vou guardar o notebook, valeus falous. HÁ, ainda tem mais uma
estação, o que é ruim e bom ao mesmo tempo. Bom pois eu posso escrever mais um
pouco de maneira totalmente rápida e ruim pois eu precisarei estar na casa de
minha tia em 7 minutos e isso será chato sob o sol quente ás onze horas no rio
de janeiro. Agora, é oficial, estou indo embora. A mala já está lá fora. Vou te
deixar.
Estou voltando para casa. Calor infernal, sol terrível
queimando minhas retinas e couro cabeludo. No momento estou com a música nas
alturas, só conseguindo distinguir uma voz muito aguda no alto-falante do
metrô. Enfim, estou eu sentada nesse banco, com minha mochila me fazendo
companhia no banco ao lado, que provavelmente será preenchido por alguém na
próxima estação, o que vai ser um problema pois não sei aonde mete-la, visto
que estou com o notebook no colo. Minha tia avó me deu cinquenta Dilmas, estou
feliz. É impressionante o quanto receber uma quantia monetária pode alegrar um
ser, eu me lembro quando achei vinte reais na rua, no carnaval. Fiquei tão
feliz que perdi o dinheiro uns momentos depois. Estou suando, pois, o ar
condicionado daqui é terrivelmente fraco, e agora olhei para a telinha e vi o
trailer de Kung Fu panda 3, vi na última sexta, é interessante. Estou na
Central, agora sim vão ocupar o banco. Ou não, não ocuparam, yay. Imagino para
uma pessoa de fora, o que deve parecer. Uma jovem intelectual franzindo a testa
para um trabalho matemático dificílimo, respondendo a uma série de questões, (neste
momento estou olhando para os lados, para a frente, e digitando mesmo assim),
“-Olhe, filho, é assim que os hackers dos filmes digitam! ”. E mais uma estação
com o lugar ao meu lado vazio, estou começando a me sentir culpada hahaha.
Estou surpresa pela bateria ultraviciada do meu notebook estar durando,
geralmente ela teria acabado em aproximadamente meia hora, e eu ficaria sozinha
com meus pensamentos e minha mochila. Taí, tenho um bom grupo aqui comigo. Eu,
minha música, minha mochila e meus pensamentos. E finalmente o inevitável
aconteceu: As portas se abriram e saiu apenas uma jovem de aparência decente,
bem arrumadinha (E não totalmente esculachada como quem vos escreve), com uma
bolsa roxa, sapatilhas e um vestido curto florido, mexendo no celular, deve
estar conversando com alguém no whatsapp ou algo do gênero. Olhe a única coisa
em comum entre nós: Estamos usando coques, eu por causa do calor absurdo e ela
deve ser por causa do estilo, não sei. Agora as pessoas que entram no metrô
precisam ficar em pé pois não há mais lugares, e eu até seria solidária e
caridosa com eles, se percebesse algum idoso ou gestante, mesmo me localizando
em um lugar livre. É impressionante, ás vezes eu faço isso não apenas por
solidariedade, mas como reprimenda aos outros que ficam parados olhando, ou até
fingindo que estão dormindo. Apenas mais seis estações, nem sei se a bateria de
meu notebook viverá até lá, mas continuemos escrevendo. Quando eu chegar em
casa um almoço estará me aguardando, provavelmente arroz feijão frango e alguns
legumes, como sempre. Ou macarrão. É impressionante como macarrão se ajusta em
quaisquer dias e quaisquer horários. E agora estamos escutando uma de minhas
músicas favoritas que se chama “Dear Agony”, no bom e velho português= Querida
agonia. É uma canção interessante, que fala a respeito de querer se livrar da
tal agonia, de um sofrimento agonizante e lento, e que será esse o jeito que
deveria ser? Mas aí está a questão, acho que no momento que o ser humano é
vivo, está sofrendo, não adianta, não conseguimos ser seres “sem problemas”,
sempre há uma necessidade, sempre há ambição, sempre há incômodo, podemos até
nos contentar com pouco superficialmente, mas internamente há perturbação.
Muitos falam que a fé ameniza esse sofrimento, mas não sei, por ser totalmente
cética, talvez eu então sofresse a dose normal de agonia dessa vida. A partir
destes argumentos, posso pressupor que para esse sofrimento, que é viver,
acabar, precisamos morrer. E eu não quero morrer, então continuemos sofrendo,
psicologicamente, fisicamente. O sofrimento é inevitável e nos move. O bom da
vida é que entre esse sofrimento temos pequenos momentos de obtenção de prazer
e felicidade, como por exemplo: Receber cinquenta reais do nada, sexo, sair com
amigos depois de um dia estressante, até uma carícia, um abraço em um momento
difícil. Seguimos sofrendo mas temos mecanismos para amenizar a dor. E com isso
me despeço dessa sessão que começou irrelevante e terminou filosófica, seria
engraçado se alguém se desse o trabalho de ler até aqui. Pronto, cheguei ao meu destino final. “Dear
agony, just let go of me, suffer slowly, is it the way it’s gotta be?”