domingo, 6 de março de 2016

Sem internet no metrô e querida agonia



Estava eu em um luau hoje mais cedo, e precisava deixar meu sono em dia. Logo, percebi que a única solução cabível seria não dormir. E agora estou indo até a tijuca, de metrô. Sei lá, o metrô e engraçado. Você encontra todo o tipo de pessoas por aqui, famílias unidas, amigos, namorados, colegas, inimigos, conhecidos. Ao mesmo tempo que terá um trabalhador apoiado na parede, cansado de um dia árduo de trabalho, temos um turista eufórico do lado falando um idioma estrangeiro. Ao mesmo tempo que temos linhas nas áreas nobres, temos nas áreas mais precárias, e no metrô temos a ligação, a junção delas. Ricos e pobres se misturam, todos estão lá para chegar a um objetivo, a maioria ansiosa para conseguir chegar ao seu destino. Droga, faltam 17 minutos para as onze, horário que marquei com minha tia. Odeio chegar atrasada vei. E estou na central ainda, ferrou. Estou ouvindo Halestorm, é bom pois dá uma emoção no pacato ato de ficar no metrô sentada e digitando. Eu adoro ficar digitando aleatoriedades, principalmente se estiver ouvindo música, me imagino no próprio clipe musical, mesmo que em um clipe musical muito ruim onde a protagonista fique digitando em seu aparato o vídeo todo. Estou digitando pois se eu não o fizer vou ficar parada olhando para o nada e talvez cairei no sono, e não é esse o objetivo. Claro, eu também tenho meu livro, meu querido livro escrito pelo George R. R. Martin (Não, não é canção de gelo e fogo) mas não conseguiria me focar e prender nas palavras, iria ler uma ou duas frases e depois mergulharia de cabeça nas palavras, literalmente, eu cairia no sono mesmo com essa leitura extraordinária. Quando estava descendo as infindáveis escadas da estação Cardeal Arcoverde, pensei que minhas músicas estivessem muito baixas, e não gosto disso, para mim ou eu ouço música na altura adequada ou não ouço, música baixa não é comigo. Mas é tenso pois ficarei com a audição ferrada no futuro. Ah, ações a curto prazo, por que tão tentadoras? Agora falta apenas duas estações, e então terei que caminhar um bocado até a casa da minha tia. Só de pensar na enorme ladeira e escadaria que me aguardam, me dá desânimo. Mas é por uma causa nobre, ela me ajudará financeiramente.... Ah, minha questão monetária conturbada... E assim vou seguindo, pelo monótono metrô, e assim continuo com minha disparidade: Um metrô monótono e chato e música agitada e efervescente. Eu até usaria o Wi-fi daqui mas precisa fazer cadastro e essas paradas burocráticas não são para mim. Olha, acho que chegamos. Não consegui ouvir a mulher falando, tamanha a altura da música nos meus fones. Bom, vou guardar o notebook, valeus falous. HÁ, ainda tem mais uma estação, o que é ruim e bom ao mesmo tempo. Bom pois eu posso escrever mais um pouco de maneira totalmente rápida e ruim pois eu precisarei estar na casa de minha tia em 7 minutos e isso será chato sob o sol quente ás onze horas no rio de janeiro. Agora, é oficial, estou indo embora. A mala já está lá fora. Vou te deixar.
Estou voltando para casa. Calor infernal, sol terrível queimando minhas retinas e couro cabeludo. No momento estou com a música nas alturas, só conseguindo distinguir uma voz muito aguda no alto-falante do metrô. Enfim, estou eu sentada nesse banco, com minha mochila me fazendo companhia no banco ao lado, que provavelmente será preenchido por alguém na próxima estação, o que vai ser um problema pois não sei aonde mete-la, visto que estou com o notebook no colo. Minha tia avó me deu cinquenta Dilmas, estou feliz. É impressionante o quanto receber uma quantia monetária pode alegrar um ser, eu me lembro quando achei vinte reais na rua, no carnaval. Fiquei tão feliz que perdi o dinheiro uns momentos depois. Estou suando, pois, o ar condicionado daqui é terrivelmente fraco, e agora olhei para a telinha e vi o trailer de Kung Fu panda 3, vi na última sexta, é interessante. Estou na Central, agora sim vão ocupar o banco. Ou não, não ocuparam, yay. Imagino para uma pessoa de fora, o que deve parecer. Uma jovem intelectual franzindo a testa para um trabalho matemático dificílimo, respondendo a uma série de questões, (neste momento estou olhando para os lados, para a frente, e digitando mesmo assim), “-Olhe, filho, é assim que os hackers dos filmes digitam! ”. E mais uma estação com o lugar ao meu lado vazio, estou começando a me sentir culpada hahaha. Estou surpresa pela bateria ultraviciada do meu notebook estar durando, geralmente ela teria acabado em aproximadamente meia hora, e eu ficaria sozinha com meus pensamentos e minha mochila. Taí, tenho um bom grupo aqui comigo. Eu, minha música, minha mochila e meus pensamentos. E finalmente o inevitável aconteceu: As portas se abriram e saiu apenas uma jovem de aparência decente, bem arrumadinha (E não totalmente esculachada como quem vos escreve), com uma bolsa roxa, sapatilhas e um vestido curto florido, mexendo no celular, deve estar conversando com alguém no whatsapp ou algo do gênero. Olhe a única coisa em comum entre nós: Estamos usando coques, eu por causa do calor absurdo e ela deve ser por causa do estilo, não sei. Agora as pessoas que entram no metrô precisam ficar em pé pois não há mais lugares, e eu até seria solidária e caridosa com eles, se percebesse algum idoso ou gestante, mesmo me localizando em um lugar livre. É impressionante, ás vezes eu faço isso não apenas por solidariedade, mas como reprimenda aos outros que ficam parados olhando, ou até fingindo que estão dormindo. Apenas mais seis estações, nem sei se a bateria de meu notebook viverá até lá, mas continuemos escrevendo. Quando eu chegar em casa um almoço estará me aguardando, provavelmente arroz feijão frango e alguns legumes, como sempre. Ou macarrão. É impressionante como macarrão se ajusta em quaisquer dias e quaisquer horários. E agora estamos escutando uma de minhas músicas favoritas que se chama “Dear Agony”, no bom e velho português= Querida agonia. É uma canção interessante, que fala a respeito de querer se livrar da tal agonia, de um sofrimento agonizante e lento, e que será esse o jeito que deveria ser? Mas aí está a questão, acho que no momento que o ser humano é vivo, está sofrendo, não adianta, não conseguimos ser seres “sem problemas”, sempre há uma necessidade, sempre há ambição, sempre há incômodo, podemos até nos contentar com pouco superficialmente, mas internamente há perturbação. Muitos falam que a fé ameniza esse sofrimento, mas não sei, por ser totalmente cética, talvez eu então sofresse a dose normal de agonia dessa vida. A partir destes argumentos, posso pressupor que para esse sofrimento, que é viver, acabar, precisamos morrer. E eu não quero morrer, então continuemos sofrendo, psicologicamente, fisicamente. O sofrimento é inevitável e nos move. O bom da vida é que entre esse sofrimento temos pequenos momentos de obtenção de prazer e felicidade, como por exemplo: Receber cinquenta reais do nada, sexo, sair com amigos depois de um dia estressante, até uma carícia, um abraço em um momento difícil. Seguimos sofrendo mas temos mecanismos para amenizar a dor. E com isso me despeço dessa sessão que começou irrelevante e terminou filosófica, seria engraçado se alguém se desse o trabalho de ler até aqui. Pronto, cheguei ao meu destino final. “Dear agony, just let go of me, suffer slowly, is it the way it’s gotta be?”

sábado, 5 de março de 2016

Rage against the System



Por que não consigo me decidir sobre o que fazer
Eu não consigo me decidir pois a escola me tirou o poder de escolha. Quando eu era criança acreditava que poderia ser o que quisesse, que seria fácil. Ao longo de muitos anos de ensino eu aprendi que precisaria aprender coisas que não gostava, coisas que consideraria irrelevante e descartaria para minha vida. Essa é a questão: Não quero abrir mão. Demorei tanto para enfiar conteúdos complexos em minha cabeça e NÃO QUERO OS JOGAR FORA, ESQUECER. Não quero esquecer as leis de newton ao mesmo tempo que não quero esquecer os tipos de floresta do Brasil, não quero jogar as orações coordenadas para o espaço ou as cadeias tróficas dos organismos. Quero manter tudo comigo, quero afirmar que valeu a pena. Ao mesmo tempo, a escola me ensinou que eu não tenho poder sobre o que eu vou fazer, teremos testes, teremos feiras culturais, trabalhos e deveres e você DEVE cumprir, independentemente de sua escolha. Eu esqueci o que é ter escolha, depois de anos recebendo informações, uma atrás da outra, onda atrás de onda na cabeça, e eu mergulhando para não levar um caixote. Agora, do nada, a calmaria chegou ao oceano e estou no meio dele, e não sei mais o que fazer, para onde ir, o que faço? Não consigo me orientar, não consigo decidir por mim mesma depois de tanto tempo recebendo ordens, sendo a máquina que me projetaram para ser, a marcadora de múltiplas escolhas, até obtive êxito em minha função. Mas e agora, simplesmente me abandonarão e dirão: “-Se vira, decida-se.”. Como assim, vocês me projetam para eu conseguir ser algo e depois viram as costas? Eu me sinto desolada, sozinha, perdida em um abismo. Depois desse ano não terei mais aconselhamento, não terei mais objetivos concretos, precisarei eu mesma os achar. Mas sou capaz disso? Vocês me pegaram jovem, me amassaram até eu couber nos padrões adequados, me adaptaram, me generalizaram, me deixaram como todos os outros. Vocês tentam matar minha criatividade todo dia, mas isso ainda é uma força maior dentro de mim. Depois de tanto tempo sendo apenas uma célula exercendo sua função, sem maiores especificidades, vêm vocês me falando que de agora em diante sou apenas eu, sozinha para decidir o que fazer com a minha vida. E agora todos me cobrando para que eu escolha, para que eu faça algo original. Então, não sei se posso fazê-lo mais, não sei se consigo pensar por mim mesma, não sei se consigo acreditar que tenho escolha sobre algo. E é isso, não sei o que fazer.
Vlw, flw